terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Cesariana, algemas e direitos humanos

A cesariana, as algemas e os direitos humanos
O conjunto de Leis e o próprio censo comum garante, ou pelo menos, teoriza uma série de direitos fundamentais a todos os seres humanos. Muitas nações, povos, tribos não os garantem exatamente por não entenderem que estes são direitos coletivos e ao mesmo tempo individuais e que devem amparar a todo o ser humano. O direito à vida é o principal de todos e nem sempre é respeitado seja por cidadãos comuns, governos, religiões, facções, etc.
No caso do Brasil, a Constituição garante os direitos fundamentais a todos os cidadãos e a nação se orgulha ao apontar que é uma das maiores defensoras dos Direitos Humanos. Até que ponto? Talvez mais que muitos países, mas muito menos do que todos nós merecemos. Quando não se combate a violência (o verdadeiro combate: investindo em educação, esporte, melhoria da qualidade de vida), quando se desvia recursos públicos da saúde, quando não se atende dignamente a nossos doentes não está se respeitando o maior de todos os Direitos do Ser Humano: o direito à vida.
Além desses casos mais genéricos, situações mais localizadas nos levam a uma reflexão mais séria, como a notícia que acabo de assistir em um telejornal: presa em agosto do ano passado, grávida, uma mulher é levada para um hospital no final de janeiro para dar a luz a uma menina. Segundo relatos dos funcionários do hospital e de outras mulheres também internadas antes e após a cesárea a mulher é agredida por agentes penitenciários e policiais militares. Nas imagens feitas três dias após o parto a mulher aparece com duas algemas fixadas à cama: uma no braço e outra na perna. Lembrando que ela acaba de fazer uma cesárea e está internada em um hospital.
- Mas ela é uma presidiária, alguns estarão querendo me dizer. E daí? Não é um ser humano, um mulher que estava grávida e que, segundo ela, foi impedida de ver e amamentar a menina. Isso não é desrespeito aos direitos fundamentais do ser humano? É, e um desrespeito profundo porque acontece juntamente com o grande milagre da vida humana que é a geração e o nascimento de um novo ser.
- Mas ela é uma presidiária, alguns insistirão. Deve ter participado de uma assassinato, deve ter traficado drogas, deve ter participado de assaltos, devia estar com armas. E daí? Ela é um ser humano, que deu a luz a um outro ser humano que provavelmente vá enfrentar uma vida muito difícil, dada as condições da família e a situação de miséria que povoa os desejos que quem mais tem influência e dinheiro neste país.
- Mas ela é uma presidiária, frisarão os defensores de uma justiça mais rígida. SAbem qual é o único crime de que ela é acusada? Furtar um enxoval de bebê, quando estava grávida.
Errou? Claro! Mas comparado ao que se vê de crimes por aí merecia esta mulher passar por toda esta situação? Será que o mesmo aconteceu com aquelas primeiras damas da região central que recentemente foram flagradas desviando verbas da merenda escolar? Ou com os sanguessugas da saúde?
Mas a personagem dessa história é pobre, é negra, ignora seus direitos, não tem um bom advogado e seu caso, que não deve ser isolado só veio à público porque um funcionário do hospital chamou uma emissora de televisão. E seu caso será esquecido! Como muitos outros. E ainda há quem defenda a pena de morte no Brasil. Para matar quem?

Gabriel Barcellos Nunes - professor das redes estadual e municipal em Piratini
Licenciado em Letras e Especialista em Educação

Texto publicado por Zero Hora em 8 de fevereiro de 2012.

Censurar nossos filhos ou culpar a escola?

Censurar nossos filhos ou culpar a escola?
Queremos formar pessoas melhores? Queremos cidadãos mais cultos? Queremos uma melhor Educação? Todas essas respostas devem ser afirmativas. Mas como vamos fazer isso se a Educação do Brasil é muito ruim, culpa dos governos e dos professores? Investindo em Educação, formando melhor os professores, claro, é a resposta mais fácil, mais simples e plausível. Só isso?
Será que só investindo em Educação teremos uma país mais culto. Infelizmente eu não acredito nisso. Enquanto nossas crianças e jovens ficarem vidrados na televisão assistindo programas que agridem a mente e a inteligência humana não haverá governo que vai resolver o problema da falta de cultura e Educação. Quais os programas preferidos da maioria das crianças e jovens? Perguntem a eles e ouvirão: Pânico na TV, Big Brother Brasil, Programa do Gugu, Melhor do Brasil, Zorra Total, SuperPop, Casos de Família entre outros.
Provavelmente quem está lendo este texto não tenha assistido a alguns desses programas. Pois eu os desafio: assistam, se conseguirem, façam um esforço e assistam e depois vejam se concordam comigo: são puras agressões a dignidade humana e a tentativa de se educar nossos alunos e filhos.
Incentivo ao uso do álcool, ao sexo irresponsável, à violência, ao preconceito (como na esmagadora maioria dos nossos programas de humor) estão visíveis na telinha. Em qualquer horário e na TV aberta. A televisão brasileira tem muita coisa boa, não estou generalizando, mas alguns programas realmente tem provocado a ira de quem acredita que a Educação possa salvar este país.
Ah, mas tem a programação infantil na Globo, no SBT, na Record, na Band. Tem, claro, os desenhos animados. Coisa boa ver nossos filhos encantados com os desenhos animados, educativos, divertidos. Mas, onde encontrá-los? Na TV aberta o que se vê são desenhos animados com puro culto à violência, ao levar vantagem em tudo, ao cometer ilegalidades. Será que é bom para as crianças ver isso? Claro que não! Depois nos queixamos da violência na escola, do bullying, do desrepeito...
Agora me digam, quanto tempo cada um de nós fica com nossos filhos? Quando tempo ficamos com nossos alunos? Quando tempo a televisão toma conta deles? Com certeza a telinha colorida atrai muito mais que nós. Óbvio, melhor ver o Pica-Pau ou o Ben10 do que ouvir o professor explicando a conjugação verbal.
Naturalmente a diversão e a informação, muito bem traduzida pela televisão são importantes à formação, mas é preciso fazer uma seleção do que nossos filhos estão assistindo. Já que há uma grande preocupação com a censura oficial que as famílias censurem o que seus filhos estão assistindo, ouvindo, teclando na internet.
Empurrar, depois, a culpa para a escola e para os professores é muito mais fácil, mas há de se ter consciência de que a pobreza cultural e o incentivo à má formação dos cidadãos estão infiltrados na nossa sociedade, nas mídias com as quais convivemos e nas relações sociais. É só prestarmos mais um pouquinho de atenção, refletirmos um pouco mais e não termos medo de nos incomodarmos. Desacomodemo-nos e interfiramos na vida daqueles que queremos ajudar a educar.

GABRIEL BARCELLOS NUNES
Licenciado em Letras e Especialista em Educação
* Professor das redes municipal e estadual em Piratini